sexta-feira, 18 de outubro de 2013

FILOSOFIA?


Nada de espantoso encontrar em nosso cotidiano pessoas, com ou sem formação intelectual, que não reconhecem ou não demonstram esforço por saber qual o papel da filosofia em meio às diversas ciências, ou ainda, qual sua utilidade hoje. Muitos acreditam estar em Diógenes de Laércio, quando relatou o pequeno conto sobre Tales, a sentença acerca da figura do filósofo. Diz o conto que Tales, após ser convidado por sua governanta a contemplar as estrelas, ao sair de sua casa, já atento ao céu estrelado, teria caído numa vala e de dentro da vala teria sido insultado e convidado, pela velha governanta, a antes de contemplar a adquirir o conhecimento do céu, ter conhecimento do que existe há um palmo de sua frente. Pelo que parece assim foi introduziria no senso comum a mais formosa e bela sentença sobre o filósofo definido como aquele sujeito com uma enorme e paleolítica barba, pensando com seus botões totalmente desligado do mundo!
Leso engano. Toda pessoa pode e deve fazer despertar em si mesma a atitude filosófica. Em que consiste tal atitude? Evidente que muitas respostas são possíveis, mas podemos entender como filosófica a atitude de não aceitar, sem antes haver refletido, qualquer suposta verdade que nos é apresentada; se, por ventura, algumas já estiverem presentes em nossa vida, em nosso dia-a-dia, trata-se de questioná-las. A modernidade esclareceu isso, que sem a dúvida possivelmente não há filosofia.  A atitude filosófica não é a de dar resposta às grandes questões da humanidade, o caminho é o inverso, é sempre o de problematizar, o que tem e o que não tem resposta. O filósofo esta inserido na realidade, que é seu campo de trabalho. Da realidade é que surgem as problemáticas da filosofia. Platão defendia que o filosofar é fruto de um sentimento, a admiração, ou seja, trata-se do homem que admira as coisas de modo que esta admiração lhe causa curiosidade, vontade saber, de conhecer. Nosso velho Aristóteles, por sua vez, segue seu mestre e em sua famosa obra intitulada Metafísica entende a filosofia como a mais elevada de todas as ciências, tendo por objeto o conhecimento das causas e dos princípios da realidade. Todo homem tende ao saber, procurar sempre conhecer mais, permanecer na ignorância seria ir contra sua própria natureza. A isto esta atrelada a função da filosofia, que em seu conceito dá ao filósofo a estatura de amante obsessivo da sabedoria.
Obviamente não podemos considerar que qualquer devaneio numa tarde de descanso é um trabalho, uma reflexão filosófica. Para “fazer” filosofia é necessário um diálogo com a história da filosofia, ou seja, com os pensadores, que ao longo de séculos deram suas contribuições. Não basta ficar restrito a isso, a esse diálogo, num formalismo acadêmico intelectual, é preciso ultrapassar isso em vista de uma filosofia perene. Ou seja, a construção de uma reflexão filosófica deve ultrapassar a problematicidade do real, adentrar nos conceitos e possibilidades dadas pelos pensadores que compõem a história da filosofia de modo a incrementar-se de possibilidades racionais e como que “retornar” com possíveis respostas ao problema.
Certamente a cultura ocidental não seria a mesma sem o legado da filosofia grega, este novo modo de fazer ciência. Um pouco mais de interesse pode levar qualquer indivíduo, diplomado ou não, a deparar-se com a verdade de que a filosofia se faz presente em todas as possibilidades de conhecimento ao passo que o eixo-central de seu indagar é o homem, o que deve conhecer e o que garante seu conhecer. A cada um de nós cabe a cada novo dia a tarefa de filosofar, de admirar-se, espantar-se com a existência real que se apresenta aos nossos olhos e deixar-se guiar levemente pelos caminhos da razão. Não se trata de um caminho audacioso. Nada mais é do que exercitar a nossa natureza, pensante.

Bruno Fleck



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